SINOPSE
Tomáš Halík
O dia 18 de março de 2020 foi a marca de um cenário de terror no Brasil. A data em que a pandemia deixou clara a sua chegada ao país e movimentou tudo aquilo que costumávamos conhecer como rotina. Os impactos da pandemia do novo coronavírus a todos os setores, além do inenarrável massacre à saúde, não eram mensuráveis e nem mesmo claros, no entanto, era clara a sua capacidade de se alastrar levando consigo o nosso conceito de normalidade.
A urgência por buscar adaptações capazes de manter as operações, proteger a economia e minimizar os impactos à saúde fez surgir a expressão que esteve entre as mais ditas em 2020: o novo normal. O novo normal nada mais foi do que uma tentativa desesperada de encontrar calmaria em meio ao caos, sem previsão alguma de acabar. O reconhecimento de que, em um cenário tão incerto, só nos restava pensar o impensável para tentar compreender os impactos da pandemia, adaptar-nos às mudanças e planejar a retomada.
A série Pensar o (im)pensável: Instituto Ciência e Fé e PUCPRESS debatem a pandemia é uma coleção de entrevistas realizadas a partir de diferentes perspectivas do saber de renomados intelectuais nacionais e internacionais sobre os impactos da pandemia. Sob a curadoria de Fabiano Incerti e Douglas Borges Candido, do Instituto Ciência e Fé e edição pela equipe PUCPRESS, as entrevistas compõem textos sobre diferentes temas como a condição humana emocional nos tempos de pandemia, novos modelos de trabalho, saúde emocional, desigualdade econômica no mundo, esperança, fé e crença.
Entre os convidados para compor as 7 entrevistas da série, estão nomes como Michel Maffesoli, professor emérito da Sorbonne e membro do Instituto Universitário da França; Domenico de Masi, sociólogo italiano consagrado pela noção de ócio criativo e professor de sociologia na Universidade La Sapienza, em Roma; Isabel Capeloa Gil, reitora da Universidade Católica Portuguesa (UCP) e Regina Herzog, psicóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora na área de teoria psicanalítica.
INFORMAÇÕES TÉCNICAS
E-book
Formato: pdf
Páginas: 8
Ano: 2020
Referência
INSTITUTO CIÊNCIA E FÉ (ICF). Pensar (im)pensável: ICF PUCPR e PUCPRESS debatem a pandemia com Tomas Halik. Curitiba: PUCPRESS, 2020. DOI https://doi.org/10.7213/pensarimpensavel.002
AUTOR
Tomáš Halík
É professor de sociologia e filosofia da religião na Universidade Charles, em Praga, República Tcheca; Presidente da Academia Cristã Tcheca; laureado, em 2014, com o Templeton Prize.
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SUMÁRIO
Como o senhor vê o fenômeno, ou a presença, da fé e da esperança em tempos de pandemia?
O teólogo ortodoxo Paul Evdokimov, em seu trabalho O Silêncio Amoroso de Deus (The loving silence of God), diz que “a única mensagem que pode tocar o ateu atual é aquela de Cristo descendo ao inferno. Independentemente das profundezas do inferno, nas quais os homens já descobriram e se encontraram, Cristo pode ser encontrado esperando ainda mais fundo. O que Ele pede ao homem não é virtude, moralismo, obediência cega, mas um voto de confiança e amor das profundezas de seu inferno. O homem nunca deve cair em desespero; ele pode cair apenas em Deus e é Deus que nunca se desespera”. Os cristãos celebraram a Páscoa recentemente, em meio a um caos pandêmico. Na sua opinião como teólogo e homem de fé, essa Páscoa foi diferente das demais devido ao fato de termos descido, existencialmente, para o “inferno”?
Aprendemos com a Antropologia que o sentimento religioso e sua criação nasceram em face de encontrar a finidade humana, especificamente, em face da morte. Poderia também a pandemia do Covid-19 nos dar uma consciência religiosa?
No seu trabalho Paciência com Deus, você diz: “[…] a lógica de Deus é diferente da lógica humana, e as pessoas precisam experimentá-la como um paradoxo”. Seria possível ler este momento com uma perspectiva teológica e afirmar que estamos inseridos em um paradoxo?
Em 27 de março de 2020, a bênção de Urbi et Orbi do Papa Francisco tornou- se um ícone neste momento em que vivemos. Um “Papa do fim do mundo” — como ele se apresentou em sua eleição — retomando dois mil anos do caminho cristão com passos solitários. Sobre seu rosto abatido e preocupado e o silêncio, o peso da humanidade que, segundo sua homilia, pensava ser saudável em um mundo doente, o Papa Francisco fala com suas palavras e com gestos. Como você interpreta o gesto de bênção do bispo romano?
Alguns pensadores alegam que a situação atual da humanidade parece ser um momento do pós-guerra. Além disso, gostaria de evocar maio de 2006, quando o Papa Bento XVI visitou o Campo de Concentração de Auschwitz-Birkenau e lá fez um discurso muito profundo, questionando-se como teólogo e homem de fé: “Muitas perguntas aparecem neste lugar! A pergunta que sempre se destaca: onde estava Deus naqueles dias? Por que Ele se calou?”. Bem, levando em consideração essas duas declarações, podemos questionar “Onde está Deus diante do Covid-19”? Será necessário reformar nossa linguagem teológica e religiosa pós-Covid-19?
Por fim, que sociedade podemos esperar pós-Covid-19?
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