Independente do nosso entendimento sobre a morte, o final, uma passagem ou o recomeço, ela sempre vem acompanhada de um aparato cultural: processos, etapas, documentos, costumes e crenças. Embora, costumeiramente, não nos questionemos sobre a forma como esse aparato se formou, sabemos que ele carrega fortes aspectos da cultura local.

Em alguns países é normal que aconteçam celebrações de despedidas com festas, comes e bebes, enquanto outras culturas celebram a sua chegada na mesma intensidade em que celebram a chegada da vida. Aqui no Brasil, por exemplo, nunca nos provocamos a entender como surgiram os cemitérios, criando verdadeiras cidades dos mortos em meio às cidades dos vivos, ao invés de enterrar nossos entes nas igrejas como antigamente.

A morte no Brasil é fruto da pesquisa de Ricardo Luiz de Souza sobre o percurso histórico dos rituais e procedimentos ligados à morte na sociedade brasileira, que vai desde a agonia até a criação de cemitérios, passando por temas como a elaboração de inventários e testamentos, o funeral e o luto e o sepultamento.

Especialista em estudos sobre a alma, seus sentidos e caminhos, ao longo da obra, Ricardo nos conduz também pela análise da morte enquanto evento simbólico, entendendo as simbologias relacionadas ao morto e sua alma, bem como o imaginário brasileiro relacionado à crença em seres e almas do outro mundo, além de refletir sobre a forma como a morte foi representada no cotidiano da população brasileira a partir de ritos, crenças e comportamentos que a expressaram, bem como expressaram os medos e esperanças a ela relacionados.